quinta-feira, 5 de junho de 2014

O valor da forma a serviço do tema








O Galeguinho do Olho Azul
(Amália Grimaldi - O Olho do Badejo)
 
O menino saruaba vestia couro cismado.
distinta pele que exibia sua cor.
Aquela, que para ele foi curtida.
Pois, do embrulho o presente, tem no seu melhor papel,
escondida, a essência de seu conteúdo.
Olhos azuis, cabelos loiros,
na fantasia exaltada sai por aí a repetir
ser ele descendente de holandês.
Respeitado mito, logo transformar-se-ia em verdade,
na fé em que o povo repetia.
A não ser pela boca desse povo, registro legal,
em folhas de livro grande, isto nunca foi visto.
As unhas crescem. Os cabelos ultrapassam limites.
Vão e voltam. Às vezes nem voltam mais.
A pele transpira o suor. Sente frio e calor.
A pele, é este couro, do ser na sua individualidade,
inequívoca proteção.
 
Tudo de bom parece que vem do Norte.
Tem lá seu gosto de maçã. Não comporta travo de caju.
Sol da meia noite aqui não aconteceria.
Que seja por esta questão angulosa,
onde residiria sua contemplativa atitude.
A cor pode variar a gosto; do azul celeste
ao vermelho sangue,
antes passando pelo tom  laranja.
Antes ainda, pelo verde cítrico, ácido limão.
Acima e abaixo desse Equador,
variação de cor, é apenas questão formal.
Trata-se do valor da forma a serviço do tema.
E de pensar que eles nem gostavam de mangaba!
Entre a calmaria da Gamboa
e o agito do Morro de São Paulo,
parece-me que somente a agudeza
de suas pedras afiadas podem falar.
Eis aí o dogma dos cinco mistérios gozosos.
Um rosário de contas suadas
que o drama do conflito parece envolver.
Forte argumento é voz repetida.
 É nessa crença que se imagina
poder  alcançar no perdão a graça divina. 
Quiçá, a reencarnação do  santo preferido;
Em mil cuidados por mãos caridosas,
ídolo de barro é carregado em frágil andor.
Balouçante desejo equilibra-se na bem-aventurança.
Pelos íngremes caminhos do Morro,
portugueses, espanhóis, franceses e holandeses,
cedo aprenderam a chupar doces mangabas.
De tão farta fruta,  seus caroços 
saíam jogando por aí; entre o barranco e o mar.
Esses homens invasores, qual bestas desavisadas,
E movidos pela luxúria desvairada,
galgavam no prazer a íngreme incerteza daqueles seus dias.
“Lá, tudo o que se joga a terra dá...
Ou, bem dizendo o escrivão Caminha,
tudo o que lá se planta dá...
É certo que, com a providencial ajuda de chuvas tropicais
a tão cantada fertilidade brasileira logo se faria verdade.
– Sementes vingaram! 
Desse longínquo tempo, restou-nos certezas,
visto que, do colonizador europeu, dito civilizado,
dele herdamos seus costumes – os bons e maus.
 
 

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