terça-feira, 18 de março de 2014





 
 
 
Fusão de sabores - plena saturação de desejos

(Amália Grimaldi – O Olho do Badejo)

 

Paçoca de amendoim, quebra-queixo e cocada. Comida de índio. Substância de negro escravizado. Materialização de pensamentos. Inventário de uma cultura carregada de significados. Herança de ancestrais. Uma trama de intrigas a envolver no tempo, o colonizador europeu e seus agregados, aqueles que vieram da África distante.

Acima de tudo, livrando da fome, são sabores os prazeres degustados, em rimas literárias. Sabores que persistem à passagem do tempo. Essa gostosa alquimia nativa provoca desejos. Plena saturação dos sentidos no deleite do prazer. Plena é a satisfação no delírio da apropriação. Oportuna penitência vem no bojo do castigo posterior, da culpa traiçoeira.  A gula se faz pecado. Merece padecer triste, na acidez estomacal, que, bom cristão, termina-se por se perdoar.

Feijão com arroz ou uma farofa de miúdos, provavelmente do dia anterior; o prato principal terá proteína animal ou uma combinação de carnes variadas.  Seja frango, porco ou peixe. Não faltando aí o verde prazer de uma salada de alface encimada por rubras fatias de suculento tomate. Atrai o olhar. Às vezes é guarnecida, a contento, por finas rodelas de cebola picante. Tem quem aprecie a presença de pimentão na salada. para finalizar,basta um toque de vinho azedado, um tempero picante que faltava à salada do padeiro galego. A mesa oferece deleite para os olhos, aguça o olfato e premia o paladar. A nossa mesa oferece tentação. Tem cor, cheiro e sabor. E, afinada melodia, no tilintar de talheres necessários.

Sobreposição de substâncias e de sabores; comida sincrônica. Fusão dos sabores,  fusão dos tempos.  Quintessência de sabores tropicais – dendê, pimenta, cravo e canela. Nosso tempero atende somente a desejos. Desejos e, desejos... E, nesse eterno retorno, da circularidade temporal, sucumbe-se à breve fugacidade. No paladar, satisfeito contente, sincronia notável. Em todos os sentidos possíveis. Insurgente penitência virá no bojo do castigo posterior; da culpa traiçoeira.  A gula então, se faz pecado.

 





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