O Galeguinho do Olho
Azul
(Amália Grimaldi - O Olho do Badejo)
O menino saruaba vestia
couro cismado.
distinta pele que
exibia sua cor.
Aquela, que para ele
foi curtida.
Pois, do embrulho o
presente, tem no seu melhor papel,
escondida, a essência
de seu conteúdo.
Olhos azuis, cabelos
loiros,
na fantasia exaltada sai
por aí a repetir
ser ele descendente de
holandês.
Respeitado mito, logo
transformar-se-ia em verdade,
na fé em que o povo
repetia.
A não ser pela boca
desse povo, registro legal,
em folhas de livro
grande, isto nunca foi visto.
As unhas crescem. Os
cabelos ultrapassam limites.
Vão e voltam. Às vezes
nem voltam mais.
A pele transpira o
suor. Sente frio e calor.
A pele, é este couro, do
ser na sua individualidade,
inequívoca proteção.
Tudo de bom parece que
vem do Norte.
Tem lá seu gosto de
maçã. Não comporta travo de caju.
Sol da meia noite aqui
não aconteceria.
Que seja por esta questão
angulosa,
onde residiria sua
contemplativa atitude.
A cor pode variar a
gosto; do azul celeste
ao vermelho sangue,
antes passando pelo
tom laranja.
Antes ainda, pelo verde
cítrico, ácido limão.
Acima e abaixo desse
Equador,
variação de cor, é
apenas questão formal.
Trata-se do valor da
forma a serviço do tema.
E de pensar que eles
nem gostavam de mangaba!
Entre a calmaria da Gamboa
e o agito do Morro de São Paulo,
parece-me que somente a agudeza
de suas pedras afiadas podem falar.
Eis aí o dogma dos cinco mistérios
gozosos.
Um rosário de contas suadas
que o drama do conflito parece envolver.
Forte argumento é voz repetida.
É
nessa crença que se imagina
poder
alcançar no perdão a graça divina.
Quiçá, a reencarnação do santo preferido;
Em mil cuidados por mãos caridosas,
ídolo de barro é carregado em frágil
andor.
Balouçante desejo equilibra-se na
bem-aventurança.
Pelos íngremes caminhos do Morro,
portugueses, espanhóis, franceses e
holandeses,
cedo aprenderam a chupar doces mangabas.
De tão farta fruta, seus caroços
saíam jogando por aí; entre o barranco e
o mar.
Esses homens invasores, qual bestas
desavisadas,
E movidos pela luxúria desvairada,
galgavam no prazer a íngreme incerteza
daqueles seus dias.
“Lá, tudo o que se joga a terra dá...
Ou, bem dizendo o escrivão Caminha,
tudo o que lá se planta dá...
É certo que, com a providencial ajuda de
chuvas tropicais
a tão cantada fertilidade brasileira
logo se faria verdade.
– Sementes vingaram!
Desse longínquo tempo, restou-nos certezas,
visto que, do colonizador europeu, dito
civilizado,
dele herdamos seus costumes – os bons e
maus.
Lindíssimo! Poesia visual!
ResponderExcluirObrigada, Emília! Abraço.
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