segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Self Vs. Self: Freeze Frame

Self Vs. Self: Freeze Frame: Thomas: The Moment Before Connecting was the first in a series of enamel paintings inspired by film stills. It was exhibited at my first,...

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O mundo que se inventa

O mundo que se inventa

 
A cor ou a nuance?
Nem mais estranho que se pareça
É esse mundo que se inventa
A chama sequer é promessa
Sem ver o lado de lá da discussão
Não haveria completa decisão
E não se sabe ao certo quando retornaria
Ínfima foi a gorjeta legada.
Amália Grimaldi


 
 
 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A Raça e a Pitanga...


A raça e a pitanga
Autor: Amália Grimaldi - " Poemas Tardios"
O mogno e o vidro
E a coroa de Ciro.
E, do vil contemporâneo,
Essa grande colina erodida:
A descrença do homem.
E, do caído, a fadiga.
O não Ser. O espaço vazio.
Da acácia, as cinzas,
O pó, levará o vento.
Mas, a luz, definirá a sombra
E o contorno do volume.
A prisão do tempo não tem saída.
Tem calendários. Rosas de ventos...
Caros instantes. Raros caminhos claros.
Uma despensa escura
E suas prateleiras incertas;
Seus dias. Meus dias.
Quem ditaria regras?
Não. Não mais haveria discussão,
Entre o tempo e o fermento,
E o sucesso da massa crescida.
Valor de esperas;
E o juízo moral. A razão.
Cansados dias.
O cálice, a mulher
E o touro.
Da palavra inútil,
Melhor o silêncio, ou
Um resquício de vergonha.
Sublimação temperada.
Insatisfação consagrada.
Do azedado vinho,
Tardia aquiescência;
Concepção. Percepção.
Ou, bastar-se a si próprio?
Mão exagerada
A dosar engano na guia,
Princípio aglutinador;
Salada mista de padeiro galego.
A torre e o fidalgo
E o quarto aposento.
Degredo. Segredo.
Pisos magnânimos,
Ídolos esculpidos...
Pouca água. Fala àtoa.
O óleo secou de vez,
E, a lamparina,
Há muito se apagou.
Ser o crente perfeito.
O sentido da Terra faz
Usos e cultos...
O mestre e o aprendiz.
Iniciante discípulo
Almejar melhor destino.
Homens suados carregam seus fardos.
Estão surdos...
Não escutam canções de outros. 
E suas línguas, tão espinhosas,
São que nem urtigas.
Queimam a pele da própria agonia:
...Não... Marrano não sou eu...
O velho muro
E a verde gosma.
Do tempo, seus musgos,
Nem sempre aclamados.
Do barro a alma,
A fama não salva.
O Éter. O Planeta,
Obra por concluir.
Assisto o retorno do caracol.
Axioma inicial.
Abóbora gigante.
Razão do conflito.
A corte no banquete,
Meu mundo.
Amplitude de esfomeados fartos.
No almoço do cristão galego
Cordeiro não seria imolado,
Mas, aquela sua faca, era bem amolada,
e o peru, então, seria assim degolado.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Alba-lux: O Olho do Badejo - Amália Grimaldi

Alba-lux: O Olho do Badejo - Amália Grimaldi:       Prefácio  O Olho do Badejo Século XVII. o neerlandês Pieter Pieterzoon Hyin e sua esquadra aportaram   no arquipélago ...

O Olho do Badejo - Amália Grimaldi


Figura de capa
Prefácio

 O Olho do Badejo

Século XVII. o neerlandês Pieter Pieterzoon Hyin e sua esquadra aportaram  no arquipélago de Tinharé, litoral da Bahia. Sem mais delongas, invadiram e saquearam  os bens da fortaleza do Morro de São Paulo. Conta a História que ele foi derrotado pelos portuguêses.  Fato contado e testemunhado. Na Bahia litorânea os neerlandeses se fizeram presentes. Em  Recife se fizeram por mais tempo. O pecado da luxúria e seus detalhes por certo não foram registrados na história. Teriam eles, homens pecadores, convidado ao camarote as exuberantes mulheres daquela ilha? Ou foram elas, selvagemente subjugadas,  ao longo das mais belas praias da Bahia?  Sim e não. Não e sim.

Eis aí o irrevelável dogma dos cinco mistérios gozosos. Talvez nessa crença se possa alcançar o perdão da graça divina. Quiçá, a reincarnação. Do santo preferido. Um verdadeiro estado de graça.  Tanto  van Dortt, como Pieter Pieterzoon Hyin, seiram eles oriundos de uma Europa reformista, provavelmente teriam sido Calvinistas. Praticando atos de heresia, sairam eles a degolar os santos dos altares portugueses. Além de bens materiais e enriquecimento ilícito, também foram movidos por desejos carnais. Comum a todos mortais. Bestas desavisadas. A galgar no prazer carnal a íngreme incerteza daqueles seus dias. Para nós restou a certeza desses nossos dias. Do colonizador europeu herdamos costumes – bons e maus.

Lenda de céu. Embalo de estrelas. História de mar e terra, aqui se fez promessa gravada. Um poema barroco. Um rococó que se desenha emocional, na racional loucura do homem, endeusado na dança de seu egocêntrico engano. Quando Cabral aqui na Bahia aportou, declarou Pindorama, a terra das palmeiras,  descoberta.  Num gesto de gratidão, no regresso ao seu reino,  Cabral então, de mão beijada, ao rei de Portugal ofertou um rico presente. Valioso carregamento, de pimenta do reino e pau-brasil.  

“Ah, como são doces as mulheres tupiniquins! Cheiram elas a canela!” Guardado distante respeito, provavelmente teria assim dito Cabral à Sua Majestade. Como paredes têm ouvidos, os cochichos da corte logo alcançariam aos ventos a cobiça dos flamengos, aqueles altos homens dos Países Baixos. Mais conhecidos como holandeses. Note-se que a Holanda ainda não existia.  Posteriormente, a Companhia das Índias Ocidentais, bem aparelhada, se fez ao mar. Eis que, no século dezessete, na Baía de Todos os Santos, chega a esquadra do militar neerlandês Johan van Dortt.  Homem de alta estatura,  cabelos loiros e olhos azuis. Segundo as más línguas, sabe-se que, de tanto comer aspargos, tinha ele verde a cara.  E assim pouco durou. Quando menos se esperava veio o engasgo fatal: Van Dortt foi pego. Com uma lata de aspargos de Horst em suas mãos! Abatido, foi ferido de morte pelo nobre capitão Padilha, bem em frente ao Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat, na entrada da Baía de Todos os Santos.

Mas é certo que bem antes desse histórico episódio, passara ele dias realmente felizes. Na aragem fresca das tardes de Salvador, a sentir na cara o sopro úmido da baía azul, deleitava-se contente.  Talvez pensasse então, que pudesse estar mais perto do céu, visto que, rodeado por escravos negros,criaturas esculturais, robustos anjos barrocos. Negros baianos legítimos. E dos não legitimados, mulatos exuberantes. Fruto de paixões exacerbadas. Ignorado acontecimento pelos jesuítas. Parece que fizeram vista grossa aos bastardos mulatos. Os filhos de meus senhores com as beldades de suas senzalas. Quanto à gente morena, paridas de cunhatãs, as mais belas, as que foram escolhidas a dedo, ao leito da luxúria de Diogo Álvares Correia, dissso guardou-se sigilo. Somente ganhou nome Catarina Paraguassu, casada com o então Caramuru, lá na França, de papel passado e tudo mais. Confome os desejos da Santa Madre Igreja. O jesuíta então, salvou assim a sua pele. Quanto ao casal famoso, sabe-se que deixaram muitos descendentes. Descansam seus ossos sob lápide de mármore branco, no louvor, lá na Igreja da Graça, em Salvador.

Pele alva.  Olhos azuis. Motivo de distinção. Não ser igual a quem lhe opõe resistência. No espaço condenado da sua gênese perdida, o menino Onésimo, em angustiante conflito parece mergulhar. Drama existencial singular. Naqueles cachos louros que a tesoura da maldade não poupou, vê-se o cromatismo distinto. Diria bem ajustar-se ao que se desejaria exprimir, a sua vontade.  Um resquício de vaidade. A continuidade perdida do seu Eu.

 “Sou descendente de holandês...!” É dito e confirmado em alto e bom som pelos mais remotos cantos da costa baiana. Alegando-se neste princípio talvez, certa nobreza de passado. Ou quem sabe, significando ser melhor do que a maioria ordinária.

Século XX. Entre os vilarejos baianos de Cajaíba em Valença, e Cova da Onça em Cairu, desenrola-se a história de Onésimo Vançarole.  

Cajaíba, no vasto manguesal circundante, um raro berçário de espécies marinhas, guarda neste complexo meio a riqueza de um complexo bioma. O arquipélago de Cairu e a costa litorânea de Valença encontram-se geograficamente próximos. Latitude 14º sul.

Mês de dezembro. Num claro dia de verão, por sorte dos bons ventos e do destino, um pequeno barco com bandeira italiana lança âncora em águas calmas. Atraente bacia de mar azul-turquesa, no arquipélago de Tinharé. Navegando o iate Medusa, o experiente velejador italiano, que pelos nativos, passaria a ser chamado de Seu Dino. Em viagem de férias com a família, a esposa e as duas meninas, vislumbrou ele, com grande satisfação, a paradisíaca  Ilha de Boipeba no arquipélago de Tinharé.  Escolheu o vilarejo de São Sebastião, uma remota praia desta ilha, conhecida como Cova da Onça, lugar onde teve início uma singular aventura.  A vida do navegador italiano e a do menino cajaibano Onésimo, ali se cruzariam. De maneira definitiva. 

Seu Dino, bom mergulhador, encontraria no fundo desse mar composto de arrecifes de corais, alguns  elementos preciosos confirmando a história da Bahia colonial.  Numa  leitura de códigos decifráveis simulando uma leitura de Braile, calcificações de moluscos na superfície de artefatos, a escrita do tempo. Pedaços de louça, cacos de antiga porcelana. Isto despertou o interesse da família pela história do vilarejo. História entremeada por episódios notáveis, verdade e mito. Bem próximo dali naufragara a caravela espanhola Madre de Dios, lugar este conhecido como Ponta dos Castelhanos. A partir daí, a vida simples do menino Onésimo, tomaria novos rumos. Por motivo justo, por ser um menino rejeitado pela família,terminou sendo adotado pela família italiana. Onésimo, mais tarde faria a sua nova morada, na distante Sicília. À sombra de pedras seculares que a catapulta de Arquimedes poupou Onésimo fez seu refúgio seguronesta ilha, na antes grega Siracusa.

O Olho do Badejo – O valor da forma a serviço da narrativa. Um jogo involuntário de forças une-se à emoção. Onésimo, personagem um tanto incomum nesses dias virtuais, diria mesmo, tratar-se de uma figura genuína, personagem pertencente a um inocente presépio de Natal. Um daqueles que ele ajudara a montar na infância, lá na casa da vovó. 


Amália Grimaldi

Guaibim – Valença, Bahia – Brasil.

Dezembro, 2012.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

O valor da forma a serviço do tema








O Galeguinho do Olho Azul
(Amália Grimaldi - O Olho do Badejo)
 
O menino saruaba vestia couro cismado.
distinta pele que exibia sua cor.
Aquela, que para ele foi curtida.
Pois, do embrulho o presente, tem no seu melhor papel,
escondida, a essência de seu conteúdo.
Olhos azuis, cabelos loiros,
na fantasia exaltada sai por aí a repetir
ser ele descendente de holandês.
Respeitado mito, logo transformar-se-ia em verdade,
na fé em que o povo repetia.
A não ser pela boca desse povo, registro legal,
em folhas de livro grande, isto nunca foi visto.
As unhas crescem. Os cabelos ultrapassam limites.
Vão e voltam. Às vezes nem voltam mais.
A pele transpira o suor. Sente frio e calor.
A pele, é este couro, do ser na sua individualidade,
inequívoca proteção.
 
Tudo de bom parece que vem do Norte.
Tem lá seu gosto de maçã. Não comporta travo de caju.
Sol da meia noite aqui não aconteceria.
Que seja por esta questão angulosa,
onde residiria sua contemplativa atitude.
A cor pode variar a gosto; do azul celeste
ao vermelho sangue,
antes passando pelo tom  laranja.
Antes ainda, pelo verde cítrico, ácido limão.
Acima e abaixo desse Equador,
variação de cor, é apenas questão formal.
Trata-se do valor da forma a serviço do tema.
E de pensar que eles nem gostavam de mangaba!
Entre a calmaria da Gamboa
e o agito do Morro de São Paulo,
parece-me que somente a agudeza
de suas pedras afiadas podem falar.
Eis aí o dogma dos cinco mistérios gozosos.
Um rosário de contas suadas
que o drama do conflito parece envolver.
Forte argumento é voz repetida.
 É nessa crença que se imagina
poder  alcançar no perdão a graça divina. 
Quiçá, a reencarnação do  santo preferido;
Em mil cuidados por mãos caridosas,
ídolo de barro é carregado em frágil andor.
Balouçante desejo equilibra-se na bem-aventurança.
Pelos íngremes caminhos do Morro,
portugueses, espanhóis, franceses e holandeses,
cedo aprenderam a chupar doces mangabas.
De tão farta fruta,  seus caroços 
saíam jogando por aí; entre o barranco e o mar.
Esses homens invasores, qual bestas desavisadas,
E movidos pela luxúria desvairada,
galgavam no prazer a íngreme incerteza daqueles seus dias.
“Lá, tudo o que se joga a terra dá...
Ou, bem dizendo o escrivão Caminha,
tudo o que lá se planta dá...
É certo que, com a providencial ajuda de chuvas tropicais
a tão cantada fertilidade brasileira logo se faria verdade.
– Sementes vingaram! 
Desse longínquo tempo, restou-nos certezas,
visto que, do colonizador europeu, dito civilizado,
dele herdamos seus costumes – os bons e maus.
 
 

terça-feira, 18 de março de 2014





 
 
 
Fusão de sabores - plena saturação de desejos

(Amália Grimaldi – O Olho do Badejo)

 

Paçoca de amendoim, quebra-queixo e cocada. Comida de índio. Substância de negro escravizado. Materialização de pensamentos. Inventário de uma cultura carregada de significados. Herança de ancestrais. Uma trama de intrigas a envolver no tempo, o colonizador europeu e seus agregados, aqueles que vieram da África distante.

Acima de tudo, livrando da fome, são sabores os prazeres degustados, em rimas literárias. Sabores que persistem à passagem do tempo. Essa gostosa alquimia nativa provoca desejos. Plena saturação dos sentidos no deleite do prazer. Plena é a satisfação no delírio da apropriação. Oportuna penitência vem no bojo do castigo posterior, da culpa traiçoeira.  A gula se faz pecado. Merece padecer triste, na acidez estomacal, que, bom cristão, termina-se por se perdoar.

Feijão com arroz ou uma farofa de miúdos, provavelmente do dia anterior; o prato principal terá proteína animal ou uma combinação de carnes variadas.  Seja frango, porco ou peixe. Não faltando aí o verde prazer de uma salada de alface encimada por rubras fatias de suculento tomate. Atrai o olhar. Às vezes é guarnecida, a contento, por finas rodelas de cebola picante. Tem quem aprecie a presença de pimentão na salada. para finalizar,basta um toque de vinho azedado, um tempero picante que faltava à salada do padeiro galego. A mesa oferece deleite para os olhos, aguça o olfato e premia o paladar. A nossa mesa oferece tentação. Tem cor, cheiro e sabor. E, afinada melodia, no tilintar de talheres necessários.

Sobreposição de substâncias e de sabores; comida sincrônica. Fusão dos sabores,  fusão dos tempos.  Quintessência de sabores tropicais – dendê, pimenta, cravo e canela. Nosso tempero atende somente a desejos. Desejos e, desejos... E, nesse eterno retorno, da circularidade temporal, sucumbe-se à breve fugacidade. No paladar, satisfeito contente, sincronia notável. Em todos os sentidos possíveis. Insurgente penitência virá no bojo do castigo posterior; da culpa traiçoeira.  A gula então, se faz pecado.

 





terça-feira, 11 de fevereiro de 2014


 
 
Um Tritão apaixonado que diz esperar por mim
Da antiga casa somente a fachada permaneceu.
Pendida à porta o número da placa ainda é o mesmo, 68.
Perdeu-se o encanto sumido nas fissuras abertas
da minha incerteza, nas paredes já fragilizadas
 
sinto o declinar desse tempo. Horizontal crepuscular.
De escamadas caliças a sombra da insegurança
uma diurna escuridão a envolver o momento.
Oca da maldade, toca que sabia antes esperar por mim,
Hoje, de sonhos vazia. Debruço à janela desse tempo.
O sol já fez a sua previsível curva; outros aniversários,
natais em celofanes azuis embalados virão
E eu aqui, guiada pelas mãos do detalhe,
encontro- me de ressentimentos desarmada
enquanto os filhos de outros ainda estão por nascer
Melhor no que faço, teço sapatinhos de crochê,
Frente à crueldade desse mundo amarro pontos ao entrelace.
Que cena mais bela! Digo a mim mesma.
A cada dia que passa mais me surpreende as atitudes humanas.
Pode parecer coisa pouca, meditar é um dom, agrega valor a alma.
Desço mais um livro dessa estante.
E de páginas escolhidas salta-me o prazer.
Oh, mundo turvado! Ou seria esse meu momento ?
Corro, pois tenho pressa. E no receio de que a luz já se apague,
embarco nas asas da libélula transparente. Alma apaixonada.
Alhures, cantos aqui me chegam, não os de sereia,
mas de um Tritão apaixonado que diz esperar por mim.
Sinos estão a repicar. Solto as amarras. Desato cordéis.
 Liberta de escrúpulos,  já corro ao seu encontro.
 
Amália Grimaldi - "Outonal elegia" 2014