Fusão
de sabores - plena saturação de desejos
(Amália
Grimaldi – O Olho do Badejo)
Paçoca de amendoim,
quebra-queixo e cocada. Comida de índio. Substância de negro escravizado.
Materialização de pensamentos. Inventário de uma cultura carregada de
significados. Herança de ancestrais. Uma trama de intrigas a envolver no tempo,
o colonizador europeu e seus agregados, aqueles que vieram da África distante.
Acima de tudo, livrando
da fome, são sabores os prazeres degustados, em rimas literárias. Sabores que
persistem à passagem do tempo. Essa gostosa alquimia nativa provoca desejos.
Plena saturação dos sentidos no deleite do prazer. Plena é a satisfação no
delírio da apropriação. Oportuna penitência vem no bojo do castigo posterior,
da culpa traiçoeira. A gula se faz
pecado. Merece padecer triste, na acidez estomacal, que, bom cristão,
termina-se por se perdoar.
Feijão com arroz ou uma
farofa de miúdos, provavelmente do dia anterior; o prato principal terá
proteína animal ou uma combinação de carnes variadas. Seja frango, porco ou peixe. Não faltando aí
o verde prazer de uma salada de alface encimada por rubras fatias de suculento
tomate. Atrai o olhar. Às vezes é guarnecida, a contento, por finas rodelas de
cebola picante. Tem quem aprecie a presença de pimentão na salada. para
finalizar,basta um toque de vinho azedado, um tempero picante que faltava à
salada do padeiro galego. A mesa oferece deleite para os olhos, aguça o olfato
e premia o paladar. A nossa mesa oferece tentação. Tem cor, cheiro e sabor. E,
afinada melodia, no tilintar de talheres necessários.
Sobreposição de
substâncias e de sabores; comida sincrônica. Fusão dos sabores, fusão dos tempos. Quintessência de sabores tropicais – dendê,
pimenta, cravo e canela. Nosso tempero atende somente a desejos. Desejos e,
desejos... E, nesse eterno retorno, da circularidade temporal, sucumbe-se à
breve fugacidade. No paladar, satisfeito contente, sincronia notável. Em todos
os sentidos possíveis. Insurgente penitência virá no bojo do castigo posterior;
da culpa traiçoeira. A gula então, se faz
pecado.