quarta-feira, 6 de novembro de 2013


 
 
Valença, não é só  isso que se vê

 
           Valença, o dia amanhece. Rufar de tambores. A filarmônica executa dobrados. E o foguetório, longe espouca.  É dia de festa. O palanque na praça ainda encontra-se vazio. Mais tarde, o esperado acontecimento. Pelas ruas tem desfile e banda tocando.

Valença, amontoado de casas, vias empatadas, gente acelerada, a conduzir seus carros, pela estreiteza de ruas e becos, mostram-se sempre ocupados. Dramas e conflitos são evidentes. Homens e mulheres, todos parecem seguir em busca de realizações, de melhorias de vida.

Valença, enfim, chegou o dia do seu aniversário! Dia 10 de novembro. A cidade se prepara. São muitos os argumentos. São muitas as razões. Nas vozes das crianças ouvem-se versos de hinos exaltados. Aprendem elas, desde cedo, a cantar o patriotismo. Justificada razão. Isto é civilidade. Aplaudem os adultos. Contenta-se autoridades. Cheios de brios, lá de cima, num breve pedestal de estátuas, acenam. E o povo, já  acostumado às sarjetas, lá embaixo na rua, atendem à obrigatoriedade, a de se fazer presente no aplauso. Batem palmas. Todos batem palmas.  Valença, apupada, acontecimento espetacular. Mas não é só isso que poderá  descrever Valença.  Aliás, muito já foi dito, sobre a dignidade de seu  povo.  Do passado histórico da cidade, e de homens de vulto que aqui nasceram. E de muitos outros, aqueles que vieram de outras bandas, ilustres cidadãos, doutores e políticos, homens de negócio, os que aqui criaram fama e fortuna.

Aqui estou a falar de um lugar lá fora, altaneiro. Lugar mais além de aplausos e retumbâncias. Falo de Serra Grande, um lugar que à primeira vista, pareceu-me despontar das nuvens, mais perto do céu.  Em atendimento odontológico, tempos atrás, costumava aí chegar pela manhã, no carro, o consultório móvel. O médico e o dentista, significação da melhor intenção da municipalidade na saúde, na pessoa do prefeito de então,  doutor Agenildo Ramalho. Tentava amenizar possíveis dores de dente. Nem sempre possível. Havia limitações. Voltaria na semana seguinte. Avisava.Nem precidavam agradecer, pois essa era a nossa obrigação.

 Serra Grande. Longe das vistas de muitos, lugar esquecido das multidões. Lugar este que muita gente nem sabe que existe. Ou, pelo menos finge, ignora. Viajo por vias tortuosas, asfalto quente. Em balanços de curvas fechadas sei que logo alcançarei a ansiada beleza solar. Entre sombras e luzes, alcançarei a paisagem serrana. Ainda hoje, deixo-me descansar em pensamento, na serenidade das tardes calmas de Serra Grande. Se no inverno, o melhor agasalho seria a morna acolhida. Seu João, na firmeza do  aperto de mão, dava mostra de sinceridade, enquanto Dona Maria, no sorriso, nem precisava falar. “Vamos entrando minha gente!”

Ah, deixa-me cantar esses rios, vasta planície, verde, sempre verde, o ano todo, frescor eterno que alimenta. Ah, e a represa, água contida, deixa-se cantar a infância, banhada de alegrias, lançando o anzol, esperando o peixe. São essas águas, sempre correntes, fluidez  que nos transporta ao mundo dos sonhos e ilusões. Tempos quando, sentados ao alpendre, o compadre e a comadre, a vizinhança reunida,  no conluio que agrega,  a amizade floria. Parece que foi ainda ontem. Mas, cresci. Ontem menina hoje, canto a beleza dessas paragens, serra espetacular.  Serra Grande, um pedaço fértil de Valença. Conheço bem a sua gente. Mulheres, em bordados e plantas graciosas, fazem crescer bondades, nos muitos filhos que pariram e neles a creditar um mundo melhor. Rapazes e moças enviadas à cidade, para estudar e trabalhar. Ser alguém na vida. Esperança de todos. Serra Grande, espraida nas encostas de sua serra, traz nos vales aguados, a fertilidade que o intruso devora  na cobiça e paixões mesquinhas. Seu povo é forte, vence os medos, na força da obstinação, deixa mostrar no trabalho a dignidade do homem no manejo da terra. Cacau, cravo e dendê. Vacas pastando. A manteiga derretida. O leite e o queijo. Ovos cantados,é voz de galinha poedeira. Fartura aí, é festa de todo dia, é produto do esforço suado. São quintais abençoados.  

Ah, deixa-me cantar esse pedaço de terra, pois hoje, a falar desse arrebol, também falo de Valença, tão ampla, mas que não é só de rio e mar. Valença, minha gente,  é tudo isto, e muito mais. O que acabei de aqui cantar, poema de louvor sincero.

 

Amália Grimaldi

 

 

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