Valença,
não é só isso que se vê
Valença, amontoado de
casas, vias empatadas, gente acelerada, a conduzir seus carros, pela estreiteza
de ruas e becos, mostram-se sempre ocupados. Dramas e conflitos são evidentes.
Homens e mulheres, todos parecem seguir em busca de realizações, de melhorias
de vida.
Valença, enfim, chegou
o dia do seu aniversário! Dia 10 de novembro. A cidade se prepara. São muitos
os argumentos. São muitas as razões. Nas vozes das crianças ouvem-se versos de
hinos exaltados. Aprendem elas, desde cedo, a cantar o patriotismo. Justificada
razão. Isto é civilidade. Aplaudem os adultos. Contenta-se autoridades. Cheios
de brios, lá de cima, num breve pedestal de estátuas, acenam. E o povo, já acostumado às sarjetas, lá embaixo na rua,
atendem à obrigatoriedade, a de se fazer presente no aplauso. Batem palmas.
Todos batem palmas. Valença, apupada,
acontecimento espetacular. Mas não é só isso que poderá descrever Valença. Aliás, muito já foi dito, sobre a dignidade de
seu povo. Do passado histórico da cidade, e de homens de
vulto que aqui nasceram. E de muitos outros, aqueles que vieram de outras
bandas, ilustres cidadãos, doutores e políticos, homens de negócio, os que aqui
criaram fama e fortuna.
Aqui estou a falar de
um lugar lá fora, altaneiro. Lugar mais além de aplausos e retumbâncias. Falo
de Serra Grande, um lugar que à primeira vista, pareceu-me despontar das
nuvens, mais perto do céu. Em
atendimento odontológico, tempos atrás, costumava aí chegar pela manhã, no
carro, o consultório móvel. O médico e o dentista, significação da melhor
intenção da municipalidade na saúde, na pessoa do prefeito de então, doutor Agenildo Ramalho. Tentava amenizar
possíveis dores de dente. Nem sempre possível. Havia limitações. Voltaria na
semana seguinte. Avisava.Nem precidavam agradecer, pois essa era a nossa
obrigação.
Serra Grande. Longe das vistas de muitos, lugar
esquecido das multidões. Lugar este que muita gente nem sabe que existe. Ou,
pelo menos finge, ignora. Viajo por vias tortuosas, asfalto quente. Em balanços
de curvas fechadas sei que logo alcançarei a ansiada beleza solar. Entre
sombras e luzes, alcançarei a paisagem serrana. Ainda hoje, deixo-me descansar em
pensamento, na serenidade das tardes calmas de Serra Grande. Se no inverno, o
melhor agasalho seria a morna acolhida. Seu João, na firmeza do aperto de mão, dava mostra de sinceridade, enquanto
Dona Maria, no sorriso, nem precisava falar. “Vamos entrando minha gente!”
Ah, deixa-me cantar
esses rios, vasta planície, verde, sempre verde, o ano todo, frescor eterno que
alimenta. Ah, e a represa, água contida, deixa-se cantar a infância, banhada de
alegrias, lançando o anzol, esperando o peixe. São essas águas, sempre
correntes, fluidez que nos transporta ao
mundo dos sonhos e ilusões. Tempos quando, sentados ao alpendre, o compadre e a
comadre, a vizinhança reunida, no
conluio que agrega, a amizade floria. Parece
que foi ainda ontem. Mas, cresci. Ontem menina hoje, canto a beleza dessas
paragens, serra espetacular. Serra
Grande, um pedaço fértil de Valença. Conheço bem a sua gente. Mulheres, em
bordados e plantas graciosas, fazem crescer bondades, nos muitos filhos que pariram
e neles a creditar um mundo melhor. Rapazes e moças enviadas à cidade, para
estudar e trabalhar. Ser alguém na vida. Esperança de todos. Serra Grande,
espraida nas encostas de sua serra, traz nos vales aguados, a fertilidade que o
intruso devora na cobiça e paixões
mesquinhas. Seu povo é forte, vence os medos, na força da obstinação, deixa
mostrar no trabalho a dignidade do homem no manejo da terra. Cacau, cravo e
dendê. Vacas pastando. A manteiga derretida. O leite e o queijo. Ovos cantados,é
voz de galinha poedeira. Fartura aí, é festa de todo dia, é produto do esforço
suado. São quintais abençoados.
Ah, deixa-me cantar
esse pedaço de terra, pois hoje, a falar desse arrebol, também falo de Valença,
tão ampla, mas que não é só de rio e mar. Valença, minha gente, é tudo isto, e muito mais. O que acabei de aqui
cantar, poema de louvor sincero.
Amália Grimaldi
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