A serviço do arroz
Ressentida talvez.
A que ninguém mais queria
Terminou por se perder
Sim. Porque quando caíram todas
Exceto esta. A que resvalou na voz ao desvão
De rancorosa dúvida posterior
Empenada, rancorosa
A familiar gaveta dos talheres
Ora range em seu caixilho torto
Sobre o dorso dessa restante
Areada alpaca de zelos
Antes a serviçodo arroz
Colher requisitada o bastante
Ainda carrega na voz o rumor que me diz
Mãos ressentidas – na porção regulada
Forma completa de insatisfação.
Gaveta tão visitada
Revistada, e tão desarrumada!
No vibrar de seus metais polidos
Ouço a glória do bem servir.
Na algaravia de muitos garfos e facas
Os guizos de melodia feliz, de quimera festiva
Rotina da antiga casa de meus avós maternos
Em Valença, na Rua do Cais do Porto.
(de Meus Poemas-Amália Grimaldi)